
1. Saúde da mulher: uma agenda urgente
2. A ascensão das femtechs
3. Como as femtechs estão melhorando a saúde feminina
4. As femtechs estão conquistando investimentos
5. O trabalho de femtechs na prática
6. Revolucionando a saúde da mulher
Segundo o último censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres representam 51,1% da população brasileira, porém esse percentual não chega nem perto dos investimentos voltados para startups de saúde da mulher.
Preparamos este artigo para você entender um pouco mais sobre o panorama da saúde da mulher no Brasil e como isso reflete nas femtechs. Boa leitura!
A saúde da mulher é um tema de extrema importância, porém nem sempre recebeu a devida atenção.
Durante muitos anos, questões referentes à saúde feminina eram assuntos tabus ou até mesmo negligenciadas.
Até a década de 1980, por exemplo, a medicina não se preocupava muito em estudar, em mulheres, a manifestação de doenças que não fossem relacionadas à reprodução.
No Brasil, somente na década de 1970 a saúde pública começou a olhar para a desnutrição de bebês e mulheres.
Além disso, apenas em 1983 que o Ministério da Saúde lançou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), que tinha como proposta descentralizar, hierarquizar e regionalizar os serviços voltados para as mulheres, mas apenas na perspectiva da saúde reprodutiva.
Depois de muita pressão, este programa passou por uma reestruturação e, em 2004, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) foi criada.
Os objetivos da PNAISM são:
Tais objetivos são diretamente relacionados ao avanço da medicina, que permitiu identificar quais doenças têm mais incidências no público feminino.
O câncer de mama representa 24,5% dos tipos de neoplasias diagnosticadas nas mulheres, seguido pelo câncer de pulmão (11,7%) e colo do útero (10,6%), segundo o Instituto Nacional de Câncer em 2020.
No Brasil, somente em 2023, foram estimados 73.610 casos novos de câncer de mama.
Não só isso: ele também é o câncer mais incidente do mundo, atingindo 2,3 milhões de mulheres em 2020, o equivalente a 24,2% das pacientes oncológicas.
Além do câncer de mama, mulheres e homens transgêneros também são fortemente imapctados pelo câncer de colo de útero, um dos mais fatais para esse público, de acordo com o INCA.
Outro ponto extremamente importante quando o assunto é saúde da mulher está ligado diretamente à saúde sexual e reprodutiva.
De acordo com o SUS, a cada 100 mil bebês nascidos vivos, 64 mulheres morreram, quase o dobro das 35 mortes estabelecidas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Em um recorte regional, a situação é ainda pior.
Na região Norte do país, 85,5 mulheres morrem durante ou após o parto para cada 100 mil bebês nascidos vivos.
A violência obstétrica também é algo que assola as mulheres. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 30% das mulheres atendidas por hospitais particulares e 45% pelos hospitais públicos sofrem violência obstétrica.
Com tantas particularidades associadas à saúde da mulher, era esperado que o investimento neste campo fosse alto.
Porém não é o que acontece: O Brasil ocupa o penúltimo lugar no ranking de gastos públicos com a saúde.
De um lado, a falta de financiamento reflete não só na precarização de serviços voltados para oncologia e reprodução, como também na desinformação acerca de temas importantes para o bem-estar feminino, como a pobreza menstrual e falta de acesso a métodos contraceptivos.
Por outro lado, isso abre espaço para que as femtechs, startups voltadas para o universo femino, proponham soluções inovadoras para este público.
Antes de adentrarmos no cenário de investimentos em femtechs no Brasil, é importante entender de onde esse termo surgiu.
O termo "femtech", cunhado pela empreendedora dinamarquesa Ida Tin, cofundadora e CEO da Clue, representa "startups voltadas para as demandas das mulheres".
Lançado em 2013, o aplicativo Clue permite o monitoramento não apenas do ciclo menstrual, mas também dos períodos de ovulação, TPM e fertilidade.
Atualmente, o app é usado por cerca de 11 milhões de mulheres em 190 países, incluindo o Brasil.
Com a evolução das discussões em torno de questões sociais, vieram também as startups voltadas para sanar dores específicas de grupos específicos que, até então, eram sub-representados na saúde.
Um exemplo disso são as femtechs, que ganharam mais espaço com o aumento de discussões sobre temas que antes eram vistas como tabu, como menstruação e sexualidade, por exemplo.
Tal popularidade tem fundamento: no Brasil, as mulheres são responsáveis por 90% das decisões e 80% dos gastos em relação à saúde de suas famílias.
Não só isso, elas também são mais antenadas com a tecnologia, sendo 75% mais propensas em utilizar ferramentas digitais para cuidar da sua saúde.
Neste cenário, as startups de saúde da mulher surgem como alternativas para preencher as lacunas deixadas para trás e oferecer soluções inovadoras e acessíveis para este público.
Com o avanço de tecnologias como inteligência artificial, data science, big data e internet das coisas, as femtechs de saúde têm um campo de atuação variado.
Elas vão desde o controle do ciclo menstrual até redes de apoio a vítimas de câncer, de vibradores inteligentes à triagem de pacientes em regiões com menos infraestrutura de saúde.
Munidas de tecnologias emergentes, as startups de saúde da mulher têm sido cruciais ao combater a desinformação, democratizar o acesso à saúde e, principalmente, promover a independência e empoderamento feminino.
Muitas mulheres enfrentam dúvidas e receios em relação à sua saúde e boa parte dessas questões pode ser sanada com a orientação correta.
As femtechs, como a Pode Perguntar, estão desenvolvendo chatbots que usam inteligência artificial para fornecer informações confiáveis sobre saúde feminina, respondendo perguntas comuns e compartilhando conhecimento médico atualizado.
Outra forma de atuação de femtechs está diretamente relacionada ao monitoramento da saúde feminina.
Através de tecnologias, é possível rastrear o ciclo menstrual, identificar períodos férteis e acompanhar sintomas relacionados ao ciclo hormonal.
E por falar em saúde menstrual, as femtechs também estão desenvolvendo formas alternativas de lidar com a menstruação.
É o caso da Inciclo, por exemplo, que desenvolveu coletores menstruais e outros produtos voltados para a saúde íntima feminina.
Com isso, startups de saúde da mulher voltadas para acompanhar o ciclo menstrual apoiam as mulheres a terem mais controle sobre sua fertilidade e a tomar decisões informadas sobre o planejamento familiar.
Essa categoria de startup também possui uma atuação extremamente importante quando o assunto é gravidez e saúde reprodutiva.
Com a criação de aplicativos ou de marketplaces de acesso à saúde, startups como a Theia auxiliam na jornada da gestante, apoiando não só no planejamento da gravidez, como também no pré-natal e no pós-parto.
E falando em saúde reprodutiva, femtechs como a Natural Cycles estão virando as queridinhas dos métodos contraceptivos.
Com o apoio de dispositivos vestíveis e inteligência artificial, o aplicativo faz o monitoramento de fertilidade a partir da temperatura corporal da mulher.
Isso permite que as mulheres tenham mais autonomia sobre seu próprio corpo e possam tomar decisões informadas sobre sua saúde.
As mulheres que estão passando ou já passaram pela menopausa também são beneficiadas pelas femtechs.
Startups como a Plenapausa têm promovido informações, acolhimento e cuidados médicos para esse público.
Outras atribuições das femtechs estão relacionadas ao combate e detecção precoce do câncer de mama. Através de inteligência artificial, startups como a Linda fazem a análise de exames de imagem para detectar anomalias.
Por fim, a saúde sexual feminina também é um dos focos das femtechs.
A Feel & Lilit, por exemplo, é uma startup da saúde da mulher, desenvolve produtos como vibradores e lubrificantes desenhados especificamente para o prazer feminino.
Com todas essas inovações, as femtechs revolucionam a forma como as mulheres cuidam de sua saúde.
Afinal, fornecer informações e recursos que antes eram escassos ou inacessíveis também é um ato de empoderamento feminino.
O futuro da saúde feminina está sendo moldado pelas femtechs, que continuam a desenvolver soluções inovadoras para melhorar a qualidade de vida das mulheres em todo o mundo.
As startups voltadas para a saúde da mulher estão se destacando e conquistando investimentos significativos.
Este mercado é tão promissor que, até 2027, US$ 1,1 trilhão globalmente, de acordo com a Femtech Focus.
Tal movimento já pode ser observado nos investimentos em femtechs, que segue se destacando e aumentando sua participação no mercado.
Atualmente, são mais de 27 femtechs que trabalham em prol da saúde da mulher.
No Brasil, elas já receberam US$ 14,3 milhões desde 2017.
Só em 2022, US$ 10,2 milhões foram destinados para startups voltadas para a saúde da mulher, um crescimento de 560% em relação ao ano anterior.
Mesmo assim, ainda há muitas oportunidades de crescimento para o setor.
Segundo a Dealroom, mesmo em um período de inverno VC, os investimentos globais em femtechs devem chegar a US$ 694 milhões* ainda este ano, conforme o gráfico abaixo.

Apesar disso, o mercado brasileiro de startups de saúde da mulher ainda tem muito potencial de desenvolvimento.
Enquanto nos Estados Unidos e Europa o setor já passa por um processo de consolidação, em terras tupiniquins ainda há um longo caminho a percorrer e um mundo de oportunidades.
Além disso, embora o aumento dos investimentos nas femtechs seja uma boa notícia, ainda há um longo caminho a percorrer para reduzir a desigualdade de gênero no ecossistema de inovação.
No Brasil, apenas 4,7% das empresas são fundadas por mulheres. Em 2020, essas startups receberam apenas 0,04% do total de investimentos, conforme levantamento do Distrito para o Female Founders Report.
Além disso, apenas 4% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços de saúde são direcionados para o sexo feminino, de acordo com o PitchBook.
Enquanto isso, o câncer de próstata, uma doença exclusivamente masculina, recebe 2% dos investimentos.
Como vimos anteriormente, o cuidado com a saúde da mulher é urgente e extremamente necessário.
Conheça algumas startups que estão fazendo este movimento acontecer!

As femtechs revolucionam a saúde da mulher ao oferecer soluções acessíveis, personalizadas e baseadas em tecnologia.
Com o apoio de investidores e o avanço da medicina, essas startups mudam a forma como as mulheres cuidam de sua saúde, promovendo uma maior autonomia e bem-estar.
A partir do avanço das femtechs, as mulheres ganham mais representatividade no mundo da inovação e da tecnologia.
Espera-se que os investimentos nessas startups continuem crescendo nos próximos anos, impulsionando a saúde e o bem-estar feminino e contribuindo para uma sociedade mais igualitária."